quinta-feira, 5 de abril de 2012

No fim de tarde

Tratava-se de uma tarde totalmente clara. Desses dias de verão, com o céu azul da cor do mar, com nuvens dançando ao ritmo do vento.. Caio aguardava na frente da sorveteria central da cidade esperando ansiosamente, com uma mão no bolso e com uma rosa na outra mão, que havia sido roubada - por uma boa causa - do vaso da mesa do escritório de sua mãe.


Tentava organizar seus pensamentos de forma positiva. "Espero que ela me entenda, que ela não se afaste.." Mas a medida que ele pensava no que falar, em como se explicar, algo lhe invadia, deixando-o totalmente vulnerável, sem reação, com o coração na boca. Como se toda a vida dependesse daquele momento.


E dependia. Afinal, Malú era sua melhor amiga, ele tinha que explicar de alguma forma o que tinha sido aquela declaração de amor inesperada, naquela tarde, enquanto estudavam biologia na biblioteca.


"-Adoro biologia, quero ser cientista. Eles têm resposta pra tudo!" - comentou Malú.
"- Aí você se engana.. Ciência não explica muita coisa.."
"- Como por exemplo?"
"- Sensações humanas, quer dizer. Cada um sabe o que lhe atrai em uma pessoa, o que faz sentir carinho, amor, mas ninguém sabe explicar porque acontece essas sensações.. Como o amor, por exemplo. Tão simples e tão complexo ao mesmo tempo." - respondeu Caio.
"- O amor? Mas o que você sabe de sentimentos? Andou lendo muitos livros de auto-ajuda, né?!" - riu.
"- Quem dera se fosse livros, é experiência própria mesmo. Afinal, ninguém explica o que eu sinto por você."
"- O que você disse?"
"- Nada, pensei alto demais.."


Os 20 minutos seguintes foram caracterizados por um silêncio desanimador, que parecia uma eternidade para os dois. Até que Malú comentou: "- Nós podíamos ir tomar um sorvete amanhã!". Caio parou de fingir que lia uma tabela do livros e olhou para os olhos de Malú. Ah, aqueles olhos. Aqueles olhos que jamais vai esquecer da primeira vez que os viu.. Depois de reparar na expressão confusa de Malú, balançou a cabeça voltando ao assunto e disse: "- Claro!".


E então la estava ele, aguardando a sua companhia, pensando o tempo todo em como dizer o que queria dizer ha tantos meses.. Como explicar que os olhos dela eram os olhos mais brilhantes, mais apaixonantes, mais profundos que ele tinha visto? Ou como lhe dizer que, embora ela reclamasse sempre dos dias em que perdia a hora e não dava tempo de se arrumar, que aqueles eram os dias em que ela estava mais linda? Como se expressar, como fazê-la sentir tudo o que ele sentia?


Não podia se declarar. E se ela o rejeitasse? Ou se afastasse, ou ficasse brava? Não podia dizer que a amava. Tentar isso estava fora de cogitação.


Um toque nos seus ombros o fez perder toda a linha de pensamento. Quando se virou para olhar quem estava ali, la estava Malú. Com seus cachos loiros soltos refletindo os raios do sol, com um vestido azul com corações brancos e uma sapatilha branca. Caio nunca tinha visto menina mais bela, mais encantadora, mais princesa.


"- Achei que você não viria.."
"- Mas é claro que eu ia vir! Jamais deixaria você sozinho aqui! Na verdade, jamais deixaria você sozinha em qualquer lugar.. Preciso te falar algo."
Sem conseguir se controlar, Caio disse:
"- Antes, deixe-me falar. Estou em uma situação complicada Malú. Eu tentei ao máximo impedir que isso acontecesse, mas não funcionou. Não consigo esquecer seu sorriso, seus olhos, seu jeito.. Não consigo parar de pensar em você. Sei que sempre falamos que amor pode estragar a amizade, mas simplesmente aconteceu. Por favor, não se afaste, mas eu precisava te contar.. Estou apaixonado por você.. Lhe trouxe isto." - Caio entregou a rosa.
"- Obrigada pela flor.." - sorriu Malú.
"- O que você queria falar antes?"
"- O mesmo que você.. Com outras palavras, mas que chegariam ao mesmo ponto.."
"- O que você quer dizer? Exatamente?"
"- Que sinto o mesmo por você, que eu te amo."


Aquilo foi melhor que ele planejava, quer dizer, ele nem pensou na possibilidade da Malú corresponder esse sentimento. Sentimento tão intenso que conseguia ser lindo e ao mesmo tempo totalmente desesperador. Mas a partir daquele dia, repetia todos os dias consigo mesmo: "Tentar não dói, tentar não dói."